sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Capítulo III (C)

A casa do João ficava a uns escassos 5 min. a pé da praia. No alinhamento da varanda podia ver-se o mar por entre os intervalos das casas que ficavam na rua marginal.
O exterior parecia modesto para não dizer mesmo degradado e destacava-se um pequeno jardim perfeitamente arranjado com flores de todas as variedades. Durante as nossas conversas, tinha descobrido que a casa fora herança de um tio:
- Chamava-se Amadeu e foi um grande historiador aqui da zona de Sintra e Lisboa.
Quando falava no nome do tio, a sua expressão enchia-se de nostalgia e respeito, como se o seu espírito continuasse presente em cada palavra que proferia. Daí foi fácil de deduzir quem influenciou a carreira do João.
- Sempre foi como um pai para mim. Sempre que tinha algum período de férias, vinha para aqui para a praia das maçãs. E em palavras demoradas como os nossos passos relatava as suas aventuras por ruínas em Sintra, visitas a museus e palácios, viagens no tempo através dos muitos livros que faziam parte do repertório do tio e reuniões culturais com outros historiadores, políticos e homens da ciência que passavam por lá na altura do verão, em longos e demorados debates, nada extenuantes.
Atravessamos a bonita calçada do jardim em direcção à soleira da porta e preparei-me mentalmente para entrar naquela casa. Fui imaginando uma casa de mobiliário antigo e corroído pelo tempo com velhos livros cambaleando pelas superfícies cobertas de pó, numa total desarrumação e sujeira típica de homem que vive sozinho (pelo menos foi o que o João me assegurara).
Entramos.
Não podia estar mais enganada. O hall tinha estava reduzido ao mínimo necessário. A um canto ficava um armário com cabide para onde o João atirou as chaves num gesto preciso que revelava o hábito com que o fazia, evidenciado também pelos riscos na madeira. Dali podíamos entrar para a cozinha ou para um corredor ou para uma sala.
- Vou só mudar de roupa, dá-me um segundo. – e dirigiu-se para a sala.
Perplexa pensei que por preguiça guardava a roupa em algum cadeirão na sala.
Adivinhando os meus pensamentos o João respondeu – a arquitectura desta casa oi toda planeada pelo meu tio.
- Esta sala foi fruto do seu desejo de fazer uma viagem na história, todas as noites antes de repousar. Aquelas palavras saiam-lhe como se fosse um desejo partilhado por ambos – De modo que temos obrigatoriamente que passar por aqui antes de entrar para os quartos – e apontou-me umas escadas que ficavam no canto mais escuro da sala. Mais perto da janela via-se um cadeirão aparentemente confortável, desgastado pelo tempo e pelo traseiro de todos que por lá passaram. Ao lado ficava uma pequena mesa de apoio.
Um contínuo de armários negros com portas de vidro por onde podíamos observar lombadas de todas as idades e feitios cobria todo o perímetro da sala à excepção de um quadro onde se podia ver um senhor de idade com uma criança.
- Foi o meu tio que o pintou – disse quando me viu a contemplar o quadro – um autoretrato. E aquele miúdo sou eu! - completou.
Tinha um aspecto querido, tal como o tio com as suas barbas brancas que me faziam lembrar o Pai Natal.
Um dos armários, junto das escadas, num recanto mais escuro e onde não chegava nenhuma das luzes da sala ostentava uma robustez que não era partilhada pelos seus vizinhos. As portas de vidro escurecido tinham a toda a volta uma borracha isolante, com se o seu conteúdo quisesse sair por ali. Era impossível ver o seu interior.
- Vou subir!
- Até já! – Retorqui enquanto continuava a explorar aquele espaço, sem lhe perguntar se queria companhia. De qualquer modo já tínhamos tido acção suficiente para aquele dia, certamente não ficaria chateado.
Dei mais uma volta contemplando todas a prateleiras. Uma mesa baixa com vários puffs de meados do século completavam o mobiliário.
Voltei ao armário misterioso e num abuso de confiança preparei-me para abrir a porta.
- Nãoooooooo! - Exclamou o João enquanto descia as escadas num salto.
O grito fez-me recuar perplexa e assustada. A expresso da sua face demonstrava um horror que eu não imaginara.
Imediatamente se recompôs: Desculpa mas o conteúdo desse armário é valiosíssimo. O meu tio guardou textos e relíquias com centenas de anos. Estão aí guardados para não se degradarem.
- Desculpa - voltou a repetir. Deveria ter-te avisado.
- Eu é que peço desculpa – rertorqui. Senti-me verdadeiramenrte estúpida – Foi uma falta de educação da minha parte.
- Bem, não vamos pensar mais nisso.
- Sabes que até uma cópia de alguns textos de da Vinci estão ai guardados – gabou-se num tom altivo colocando o dedo em frente da boca num gesto de segredo.
Subitamente ficou pensativo e voltou-se para mim num tom expressivo:
- deixa-me ver esse papelinho…

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Capítulo III (B)

- Bom dia princesa! – Exclamou estremunhado.
- Estou com uma tremenda ressaca. – disse ele.
- Pudera à quantidade de vinho que bebemos ontem, não é de admirar- disse eu – soltando uma gargalhada.
- Porque te ris? – perguntou.
- Estou-me a rir da tua cara!
- Da minha cara?
- Sim. Estás completamente sedado. Parece que todas estas horas de sono não foram suficientes para recuperar da noite de ontem.
- João assentiu com a cabeça, corou e envergonhado refugiou-se por debaixo dos lençóis.
- Que horas são? – perguntou num tom abafado.
- Não sei. Deixa-me ver no telemóvel. Levantei-me da cama e fui à sala procurar a minha bolsa. Estava no sofá. Peguei nela e o seu conteúdo despejou-se no chão, o fecho estava aberto. Apanhei tudo e voltei a colocar lá dentro à excepção do telemóvel que marcava 10h35m e de um papelinho amarrotado. Subitamente recordei-me do episódio da churrasqueira dos magrebinos e da mulher loira. Regressei ao quarto. Por instantes quedei-me de pé a olhar para o tecto.
- Então Margarida que se passa. Porquê esse ar pensativa?
- Arrependeste-te de alguma coisa do que se passou entre nós? – perguntou encadeadamente.
- “Achas? Claro que não!”- E pulei para a cama novamente abraçando-o com toda a força possível.
-“Tu és a melhor coisa que me podia ter acontecido nestas férias!”
- O que se passa é que tenho aqui este bilhete, disse mostrando o pedaço de papel amarrotado.

“Nathalia Nikolaeva”
“ZUL MUIDATS 12 ETAG”

João leu em voz alta. E perguntou: - sim e…? – deixando a pergunta no ar.
E contei todo o sucedido. Todos os factos estranhos que tinha observado: as trufas, os magrebinos, a loira, o arrastão.
- De facto é muito estranho. – disse o João. Mas o que é que estás a pensar?
- Não sei mas gostava de perceber o que está por detrás daquela história. Quem era aquela mulher e aqueles homens? Que faziam naquele restaurante? E porque é que ela se sujeitou aquele tratamento?
- Pois Margarida não te posso responder. Mas tenho uma solução voltámos lá à hora do almoço e falámos com o senhor. Pode ser que as personagens voltem lá…
- Oh. Vamos lá ter esse trabalho isto não passa de macacos na minha cabeça.
- Se calhar tens razão. Mas podemos ir lá de qualquer das maneiras. Temos que almoçar e temos por isso…
- Ok regressamos ao local do crime! – disse eu entusiasmada.
- Crime? Qual crime? Tu estás maluca. Andas a ver filmes a mais! Agora percebo porque é precisas de férias.
- Que engraçadinho! – disse com um ar chateada.
Vá não te chateies vamo-nos arranjar damos um passeio e depois vamos ao dito restaurante, alimentar o corpo. – Retorquiu o João.
Levantei-me energicamente em direcção ao quarto de banho e liguei o chuveiro. João segui-me os passos e mergulhamos num banho relaxante.
Quarenta e cinco minutos depois cruzávamos o portão da casa, para a rua de calceta em direcção à praia. João vestia a mesma roupa do dia anterior. Os mesmos calções garridos e uma t-shirt branca com uma figura vermelha que condizia com os calções, e umas havaianas pretas.
O céu estava claro, à semelhança do que aconteceu nos dias anteriores. O sol queimava e a praia vista de cima apresentava já alguns veraneantes equipados com guarda sois.
- Margarida não te importas que passe em casa só para trocar de roupa?
- Não claro que não. Então fazemos um pequeno desvio moro já ali à frente. Depois descemos também ainda é cedo para a hora do almoço.
Demoramos nem 5 minutos. Caminho todo ele feito a conversar sobre como tinha decidido vir para a praia das maçãs.
- Chegamos. É esta a minha casa! Disse João.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Capitulo III (A)

Acordei devagar com um raio de sol a acariciar a minha pele. Estava completamente esgotada, os raios de luz que penetravam as frestas das janelas ornamentavam o meu corpo nu em tons de dourado que contrastava com a minha pele já morena. Lentamente fui sentindo o calor progrdir desde a curvatura das minhas nádegas até aos seios descobertos, deliciando-me com aquela sensação até então desconhecida. Aquelas férias foram um verdadeiro repasto para os meus sentidos, para o corpo e para a mente.
Apelando à memória, tentei reviver o dia anterior: a corrida na madrugada, os bolos da Dona Deolinda, a praia, o João, o roubo, o João, o almoço, o João, o fantástico e maravilhoso João que veio divinizar estas já maravilhosas férias.
Tive que fazer um esforço redobrado para lembrar os acontecimentos que se seguiram ao almoço, talvez devido ao sublime Lysias com que nos deleitamos. Lembro-me também que não ficamos pela primeira garrafa, embora não possa precisar quantas foram ao certo. Só esperava terem sobrado mais algumas garrafas para poder voltar a repetir aquele almoço.
Comecei agora a sentir os primeiros sinais de uma nova sensação: uma dor de cabeça colossal, como se os meus neurónios estivessem em agonia. Senti também uma ligeira náusea que imediatamente desapareceu. A dor crescia de intensidade conforme o quarto ficava mais iluminado. Peguei no lençol, puxei-o e cobri os olhos. Lá em baixo, na penubra dos tecidos, o João permanecia envolto nos seus sonhos. Fiquei ali um bom bocado a olhá-lo, a contemplar todos os bocadinhos do seu corpo que se revelava um verdadeiro regalo para os meus olhos: o seu aspecto robusto que contsatava com o veludo da sua pele, as suas mão firmes e experientes, a curvadas suas nádegas apeditosas... Apesar do cansaço, sentia-me aínda nos píncaros da excitação.
Depois do almoço lembro-me vagamente de ver o Sol já em queda para o infinito, mas ainda ia alto. O João cambaleou até ao chuveiro a reclamar o banho prometido. Instintivamente fiz-lhe companhia. As nossas roupas cairam pelo corredor, muito antes de alcançamos a casa de banho. Os últimos metros foram percorridos em uníssono, entre beijos profundos e carícias meigas que alternavam com mordedelas e apalpões que me percorriam todo o corpo. Nem a água gelada que caiu do chuveiro apagou o fogo que ardia em nós. Era como se eu tivesse acumulado toda esta energia durante anos. Senti aquele calor invadir-me num vai e vém de prazer.
De nada servira o banho, os nossos corpos ofegantes e transpirados deslizavam como se tivessem sido criados para combinar, até atingirmos o clímax em gemidos de prazer. Depois, repousávamos, inertes, contemplando a arte esboçada nos contornos da pele que nos voltava a encher de paixão. Quando os nossos músculos recarregavam as energias, imediatamente nos voltavamos a precipitar nos prazeres da carne que tantas vezes o padre da freguesia nos prevenira. Foi então que eeu compreendi a razão de os apelidar de «tentação».
Não sei bem ao certo quantas vezes repetimos aquele guião improvisado mas o facto é que agora estava completamente estafada. Tornava-se difícil distinguir os sonhos que vivera naquela noite da realidade, o que também pouca diferença me fazia porque de qualquer maneira, tudo aquilo fora deveras intenso.
Sentia-me deveras feliz e satisfeita. Lamentei e amaldiçoei todos os anos que passei sem experimentar todos aqueles prazeres, como se fossem proibidos. Naquela noite vivera mais do que em toda a minha vida até então. Foram momentos capazes de justificarem toda uma existência.
Agora, enquanto gozava os poucos minutos antes do João acordar, não conseguia deixar de pensar e desejar a próxima oportunidade para repetir o feito.
O João começou então a esboçar os primeiros indícios de despertar. Os músculos moviam-se um a um com se tivessem sido ligados por um interruptor. Mecheu um braço e depois a cabeça, rodando na minha direcção como se adivinhasse que o estava a observar.
Quando as pálpebras pesadas se preparavam para vencer a gravidade, imediatamente lhe apliquei um beijo sedativo, enquanto lhe cobria o corpo de carícias:
- Bom dia meu garanhão ...

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Capitulo II (I)

Deixei a porta entreaberta, propositadamente, esperando que inesperadamente João decidisse entrar e consumir o fogo que ardia dentro de mim. Pela mesma abertura corria um vento que me arrepiava a pele e enrijecia os bicos dos mamilos. Mergulhei na espuma e água quente da banheira. Era nova mas de estilo antigo, branca de esmalte assente nuns pés de aço. Ocupava grande parte da divisão que era iluminada por uma pequena fresta aberta de acordo com a convicção dos nossos velhos reinículas, que exigiam que nestas aberturas não coubesse uma cabeça humana.
O roupão branco de felpo estava pendurado na porta e as toalhas no armário por debaixo do lavatório. O demorado banho impacientava a minha visita que gritou da sala: - “Ainda demoras Margarida?”
Não respondi. Mergulhando novamente na água.
Passaram mais uns quantos minutos até que ouvi novamente a voz de João agora mais perto a chamar pelo meu nome: “Margarida? Está pronto o almoço, ainda demoras?”
- Não estou quase pronta. Retirei a espuma do corpo, usei a toalha, enxaguei o cabelo e enrolei-o na toalha. Vesti o roupão e dirigi-me para o quarto. Vociferei na direcção da sala: -“Dá-me dois minutos que já me apronto”.
-“Ok não demores que a comida não espera! – respondeu.
Procurei no armário o vestido cor de rosa bebé. Era curto, bastante acima do joelho e decotado suficiente. Coloquei um bikini moderno de cor azul e traçado nas costas. Voltei à casa de banho. Ao espelho penteei-me e apliquei uma loção hidratante que me deixou a brilhas. Saí para a sala onde João me esperava no sofá. A mesa estava aprumada. A toalha vermelha que vinha usando estendida de forma diferente, apensa cobrindo um terço da mesa redonda, a parte do meio, e servindo de base aos pratos brancos, talheres e copos de pé, que suplicavam por vinho.
- “Senta-te.” – proferiu João como se fosse ele o anfitrião.
- O que preparaste? – perguntei eu curiosa
-Espera que vou buscar.
Ausentou-se da sala e trouxe numa travessa da mesma família dos pratos uma massa.
- Hum! Que bom aspecto! – exclamei - o que é?
- É uma massa de bacalhau com natas e queijo fresco. Foi o que consegui preparar com a oferta do frigorífico.
- Tem um aspecto delicioso. – disse eu enquanto João me servia.
- Pena é que não haja um bom vinho para acompanhar.
- Quem disse que não há? – respondi.
Fui à cozinha e debaixo da banca, num canto do armário retirei duas garrafas de Lysias. Um vinho regional alentejano ainda pouco conhecido. Regressei com néctar na mão esquerda e um saca-rolhas na direita.
- “Espero que gostes. Foi-mo recomendado, por um enólogo conhecido.”
- Deve estar óptimo, principalmente para quem ia beber água. – Disse João pegando na garrafa e observando o rótulo azul, com a imagem da Deus que dava nome ao Vinho. Leu o rótulo em voz alta:

“Este vinho é inspirado nas memórias longínquas da terra antiga de Portalegre e nos mitos fundadores da nossa identidade.
Lysias, filho de Baco, aqui viveu e construí um templo em honra de seu pai o Deus do Vinho. Conta a lenda que a cidade de amaia, mais tarde Portalegre, foi fundada em memória de sua bela filha. Maia, de seu nome, enfeitiçou o vagabundo Dolmes com a sua beleza e este tirou-lhe a vida.
Durante 60 luas diz-se que Lysias esperou em vão que Maia voltasse e quando julgou vê-la na sua imaginação, morreu de súbita alegria vinda do mais profundo do seu íntimo.
Deixou-nos esta história forte que se fez lenda e percorreu séculos, sempre ligados ao nosso imaginário e que é agora celebrada com este vinho inscrito nos afectos. Autêntico como o sentir de Lysias, mágico e mítico como tudo o que descende de Baco.”

A voz melódica e tom apaixonado com que João leu o Rótulo, transformaram o momento, num episódico idílico. Deu-me uma imensa vontade de beber o ósculo do meu parceiro de mesa, tal o charme que jorrava das palavras que proferia.

- Excelente discrição – proferiu João.
- Engraçado quando se lê uma garrafa normalmente costuma-se começar pela origem, pela casta e não pela história que normalmente é acessória ao néctar. – disse eu.
- “Sim é verdade. Acontece, que a imagem do Deus Lysias despertou-me a atenção. Sabes é que sou professor de história na Faculdade de Letras de Lisboa e lecciono várias cadeiras de grego e latim. Aliás sou um verdadeiro apaixonado pela civilização Grega e Romana”.
- “A sério? Que fascinante! Sempre pensei que os professores de história fossem uns totós de óculos que vivessem para os livros.
- Bem, não sei se hei-de tomar isso como uma crítica aos meus colegas ou como um elogio à minha pessoa. – disse sorrindo enquanto enroscava o saca-rolhas. De repente ouviu-se um plop, sinal de que a rolha tinha sido retirada com sucesso.
- Enquanto o vinho respira, deixa-me servir-te um pouco de massa Guida” - o nome soou carinhosamente, principalmente porque acompanhado por um sorriso amoroso e porque era usado por minha mãe.
- Nem repliquei. Limitei-me a olhar para ele siderada, pelo diminutivo utilizado. Parecia que me conhecia há anos…

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Capitulo II (H)

Enquanto caminhava em direcção à porta, sentia-me uma verdadeira amadora. E não era para menos: nunca tive um namorado. Desde a minha adolescência, convenci-me que uma mulher que deseje prosperar na carreira tem que fazer alguns sacrifícios. Desde então esforçava-me por ser a melhor em tudo que fazia, a competição era o meu afrodizíaco e o trabalho o meu único companheiro. Assim comecei como economista numa pequena secção da empresa, mas logo no primeiro ano fui promovida a gestora da mesma para desolação do meu antecessor que se viu vencido e acabado, também em parte devido à sua idade. Imediatamente os meus colegas mudaram de atitude em relação a mim, os meus esforços acabaram por dar resultado. Em pouco tempo cheguei a chefe de departamento e agora, ao fim de dez anos, foi-me proposto um lugar na mesa da administração. A emoção em torno desse assunto motivou as minhas férias. Era fácil de prever que no caso de aceitar o caso, as minhas próximas férias poderiam demorar bem mais do que dez anos e então comecei a ponderar se deveria de facto esquecer os sonhos que tinha em criança de casar e formar família.
As férias foram então planeadas para reflectir sobre este assunto e descansar. Nunca pensei no entanto estar agora a entrar na numa casa com um homem, e que homem!
- Por favor, entra. - Convidei. Ele acedeu sem hesitar.
- Fica à vonatade.
Enquanto fechava a porta e contemplava o seu traseiro a deambular pelo meu corredor, apercebi-me que aquela era a casa de uma mulher que morava sozinha e já não tinha férias há dez anos. Tarde demais, com o seu olhar discreto o João estava agora a olhar pela porta do quarto:
- Bem parece-me que esta não é a porta da cozinha! - um sorriso saltou-lhe sem querer, e tornou-o ainda mais apetecível.
- Desculpa, não estava a contar com visitas, tudo isto foi um bocado inesperado.
- Se quiseres vou embora - ameaçou num tom brincalhão.
- Não precisas, e de qualquer maneira tenho que retribuir de algum modo o que fizeste por mim hoje.
Relembrando os acontecimentos, apercebi-me subitamete que só tinha conhecido o João naquela manhã, e em poucas horas já estava a convidá-lo para entrar em minha casa. Fui então invadida por um peso na consciência e um sentido de irresponsabilidade que imediatamente se esvaneceu no vigor da voz daquele divo:
- Ques que faça o almoço?
Hesitei um segundo na resposta - Pode ser, vamos ver os teus talentos.
Os atributos já os conhecia, faltava agora ser surpreendida com um excelente cozinheiro, romântico, culto e acima de tudo: disponível, algo que ainda não lhe perguntara mas que eu já adivinhava vir a surgir no decorrer das nossas conversas daquela tarde.
- Tens tudo nos armários e na dispensa. Serve-te à vontade do que quiseres.
- Ok! - Respondeu olhando com um sorriso maroto, como se me conhecesse há muitos anos.
- Oh! - retorqui - sabes o que quero dizer. Vou só tomar um banho e já acabo. Se quiseres podes ir tu no fim? convidei.
- Não posso ir agora?
- Não, tens que fazer o almoço e eu estou esfomeada. - A custo consegui manter a serenidade, bem estava esfomeada, só não disse de quê.
Dirigi-me então ao quarto, arrumei umas roupas e rapidamente saltei para a modesta casa de banho, abstraida pelos meus pensamentos e desejos...

Capitulo II (G)

O ladrão continuava imóvel estendido no chão, à espera do que viria a acontecer. A polícia chegou entretanto e tomou conta da ocorrência. Fui obrigada a deslocar-me ao posto mais próximo e prestar declarações do sucedido. Ao fim de uma hora, e na posse dos meus pertences saí, estafada, da sala de depoimentos. Cá fora esperava-me João cabisbaixo, muito provavelmente já desesperado pela demora das inquirições.
- “Então?” – perguntou ele.
- “Quem espera desespera!” – Exclamei.
- “Ou sempre alcança! “– Respondeu imediatamente. Percebi claramente o que ele quis dizer e devolvi um sorriso de cumplicidade.
- “ Mas como correu?” – perguntou novamente?
- “Normal. Agora o processo seguirá os seus trâmites normais”. – a frase surgiu naturalmente, mas pareceu demasiado técnica e gerou surpresa do outro lado e certamente daria azo a novas perguntas, não fora o meu rápido desviar da conversa.
- “Bem, não interessa mais? O ladrão vai preso, eu recuperei a minha mala por isso acabou tudo em bem! Almoçamos?”
- João não muito convencido assentiu com a cabeça, e com o olhar que agora brilhava mais do que nunca.
Saímos do posto e o sol batia mais quente do que o normal. Passava pouco mais das duas e o meu estômago voltava a dar sinal de si.
- “Onde vamos?” – perguntei eu.
- Não sei. Tem alguma preferência?
- Não me trates por você João. Faz-me sentir mais velha e afinal somos praticamente da mesma idade não? Ok eu sou mais velha um pouco, mas nada que te impeça de me tratares por tu.
-Teria todo gosto. Acontece que nem sequer sei o seu, quer dizer o teu nome! – Afirmou ironicamente.
- Tens razão então façamos as apresentações correctamente. - O meu nome é Margarida Moreira, muito gosto! – Exclamei apertando simultaneamente a mãe do meu novo amigo.
- Eu sou o João Rodrigo Almeida encantado!
O diálogo parecia-me saído de um filme de época, e o espaço onde outrora os grandes burgueses de Sintra passeavam, aproveitando o eléctrico que ainda hoje funciona e ligavam a montanha ao mar, apelava a esta maior formalidade.
Era inegável que o João despertou em mim um sentimento diferente. Uma paixão platónica que há muito teimava em não aparecer. A sua beleza ajudava e a carência que sentia também.
- Margarida, agora vamos almoçar, aproveitamos para nos conhecermos melhor porque para já só sei o teu nome – e fez questão de sublinhar o pronome pessoal teu, sorrindo e demonstrando que a partir daquele momento a proximidade entre nós só poderia aumentar – e que és do Porto…
E com esta frase inacabada terminou confiante de que me teria surpreendido e de facto surpreendeu.
- Do Porto? Como é que sabes? – Perguntei.
- É impossível não descobrir. O teu sotaque denuncia qualquer um, sorrindo de forma sarcástica,
- Pois olha que o teu também não. Aposto que és um alfacinha de gema – devolvendo o mesmo sorriso.
- “Pois parece que acertamos os dois” - afirmou João.
- Parece que sim disse – sorrindo.
Tínhamos vindo a caminhar lentamente desde o posto da polícia e estávamos agora já bem perto da minha casa. Sugeri que fossemos lá almoçar…

domingo, 17 de dezembro de 2006

Capitulo II (F)

A água do Atlântico parecia fria devido ás temperaturas que se faziam sentir cá fora. Num mergulho alimentado pela nova energia deste encontro, penetrei as ondas como uma espada e em fortes braçadas distanciei-me da margem. Sempre fora uma exímia nadadora, e os treinos semanais ajudavam-me a manter o corpo em óptima forma. Lancei o olhar à praia e reparei que o João de tempos a tempos entrava numa onda de "voyeur" para me observar. Senti-me uma verdadeira musa.
Quando pasei a zona de rebentação e psiava a areia em busca de suporte, procurei a minha toalha e eis que reparo num jovem bem parecido de porte atlético debruçado sobre a minha bolsa:
- Ladrão, ajudem-me! - as palavras sairam instantaneamente, talvez devido á quantiddae de roubos a que já estava habituada na cidade do Porto
O João, reagindo à minha voz como se fosse a de um mestre, imediatamentecaiu no encalço do larápio, juntamente com os seus três amigos. Juntei-me à perseguição.
O rapaz saiu disparado da praia e virou á direita em direcção a Colares. Apesar da sua agilidade e velocidade, todos aqueles que o perseguiam incluindo eu não ficávamos atrás e, não sei se pelo efeito de grupo ou pelo desejo iminente de alcançar algo, íamos encurtando a distância que nos separava.
Ao chegar ao estacionamento da Piscina da Praia das Maçãs um dos amigos do João, num gesto preciso e calculado, passou uma rasteira ao fugitivo que imediatamente perdeu o equilibrio, deslizando no alcatrão.
Ficou com um aspecto lastimável, o peito escorria sangue e exibia profundos arranhões, tal como as mãos e os joelhos. Por sorte a cara fora poupada, mas por pouco tempo. Imediatamente outro dos amigos do João, num ímpeto de fúria aplicou-le uma valente murro.
Aiiii! Porra! - o gemido ecoou pelas redondezas e as pessoas começaram a voltar-s e na nossa direcção.
Agora compreendi poqrue conseguimos alcançá-lo: dum saco habilmente laborado para ser colocado como uma mochila à frente do peito, saltaram inúmeras bolsas, telemóveis, carteiras...
Cabrão de gatuno - reprimiu o João e preparou-se para lhe aplicar uma nova sentença mas eu interromi-o.
- Vamos entregá-lo às autoridades - disse eu, e comecei a procurar a minha bolsa de modo a evitar ter que passar o resto do dia na GNR só para reaver o que é meu. Enquanto procurava, uma outra carteira que já me era familiar surgiu diante dos meus olhos. Um rolex genuino, como o que o meu patrão ostentava msatrava as horas: 12.23

sábado, 16 de dezembro de 2006

Capitulo II (E)

Adormeci e naveguei por terras distantes, paraísos desertos, praias exóticas com palmeiras e águas claras. Tudo como num filme de Hollywood, sem que faltasse os actores esbeltos e musculados por quem me apaixonei na minha infância. Subitamente acordei com uma bofetada nas costas. A meus pés um homem, perguntava-me: Está bem? Eu sem perceber o que se estava a passar respondi timidamente: Sim…, quer dizer… acho que sim… mas o que se passou?
Peço imensa desculpa - disse ele com um sotaque lisboeta e voz rouca e forte – estávamos aqui num jogo de futebol e uma bola rechaçou para as suas costas. Espero que esteja tudo ok?! – Interrogou-me!
Bem eu acho que está tudo bem. Quer dizer a bolada efectivamente foi violenta – disse eu, assentindo o jovem com a cabeça – mas de qualquer forma foi mais o susto que pregou porque estava meia a dormir.
Claro, eu peço imensa desculpa – replicou novamente – não foi intencional, mas por vezes excedemo-nos no calor do jogo.
Eu compreendo perfeitamente. Acontece. Mas não se preocupe está tudo bem – retorqui eu sacudindo a areia das costas e sentando-me na toalha. Reparei então, agora que estavamos ao mesmo nível da cabeça, na beleza do meu acidental interlocutor. Era moreno, cabelo rapado, musculado, não muito, aparentava uns 25 anos e usava uns calções vermelhos garridos. Espero que a bolada tenho valido a pena – retornei eu após alguns milésimos de silêncio, e evidenciando um sorriso libidinoso.
Ele retribui o sorriso e respondeu, desta vez ganhámos. Mas nenhuma vitória justifica magoar uma senhora tão bonita… Senti subitamente a cara a corar…Nunca antes tinha sido bajulada por nenhum homem. Já tinha ouvido alguns piropos dos homens dos andaimes, embora esses não seleccionem o seu público. Pela primeira vez em toda a vida senti-me sensual aos olhos de um homem. Os conselhos de Carla e a mudança de visual começavam a dar resultado, pensei eu.
- “O meu nome é João… tenho casa aqui na Praia das Maçãs… não a costumo ver por aqui? É a primeira vez? A pergunta primeira vez soou-me perfeitamente estúpida e acho que o meu novo amigo se apercebeu do meu embaraço e completou… -“Passo férias aqui há já bastantes anos e não me recordo da sua cara!
“Sim é verdade – respondi – é a primeira vez que cá venho mas estou a adorar! – exclamei por fim com medo de mostrar demasiado interesse na conversa
“Está sozinha”? – perguntou João.
- “Sim arrendei uma casa de verão para passar uma temporada precisava de descansar”.
- Fez muito bem. A praia das maçãs tem mil e um encantos. Mas o principal é ser bastante calma e relaxante. Muito bem vou deixá-la em paz a descansar pode ser que nos encontremos por aí um dia, à noite e convido-a para um café…
Não respondi apenas lancei um sorriso que me comprometeu.
- Mais uma vez desculpe sim? Disse afastando-se para junto dos amigos que assistiam à cena sorrindo e piropando na nossa direcção.
- Não se preocupe está tudo ok. Dando por terminado o episódio. O calor apertava, não sei se pela situação em si ou se pelo avançar do sol e das horas que no meu relógio marcava 11. Decidi refrescar-me na beira do mar…

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Capitulo II (D)

Apesar da magnífica vista do alto das Azenhas do Mar, a praia deixava algo a desejar. O reduzido areal que quase desaparecia ao sabor das marés não combinava com o meu desejo de passar uma manhã na praia. Assim, todas as alvoradas depois da minha corrida matinal, dirigia-me à praia das Maçãs ou outra qualquer das redondezas.
O telemóvel tocou.
- Olá!
- Olá Carla, então como estás?
- Tudo bem, e essas férias?
- O sítio é fenomenal, superou as minhas espectativas, estou a divertir-me imenso.
- Já arranjaste uma companhia por aí para te aquecer nas noites frias?
- Ainda não, e as noites não são tão frias assim, mas não tarda vou precisar.
- Ok! Fica bem então, voltarei a ligar.
- Beijinhos! - retorqui antes de desligar o telefone.
Quando ia a pousar o telefone na mala reparei num papel volumoso que alterara toda a logística daquela mala típica de mulher. Retirei-o e só então me lembrei que não contei tudo à Carla. Aquele era o papel de toilette onde escrevia a estranha frase. Estava modestamente amarrotado pelos solavancos do caminho. Voltei a ler: “ZUL MUIDATS 12 ETAG”. Aquela frase não significava nada, nem a minha disposição permitia que eu usasse mais um neurónio para pensar naquele assunto. Pensava somente em gozar o resto das férias da melhor maneira possível. Cheguei á praia, estendi a toalha e fiquei ali a contemplar o horizonte enquanto discretamente, ou não, fitava os corpos esculturais dos surfistas, abençoando a hora em que tinha escolhido aquele paraíso para descansar...

Capitulo II (C)

Decidi regressar a casa e reconfortar o estômago, já que a nata da D. Deolinda serviu só para tapar a cova de um dente. Estava esfomeada. Por certo o mesmo pão que havia ficado nas vitrinas da padaria, estaria também à minha espera na porta da casa arrendada. Assim, volvido o caminho de regresso a casa, avistei ao virar da esquina, pendurado no puxador da porta um saco de pano cheio de pão. Abrandei a corrida progressivamente até parar e normalizar o a respiração que trazia ofegante. O sol que subia para o seu pico de calor, estava agora mais forte e quente. Estava encharcada em suor mas mais leve no espírito. Peguei no saco do pão, rodei a chave na fechadura e entrei em direcção à cozinha. Estava bem equipada com todos os electrodomésticos necessários e até alguns supérfluos para o quotidiano. Despi-me, de forma ligeira e coloquei a roupa molhada na máquina de lavar roupa que acumulava já à alguns dias a roupa do inicio das férias. Caminhei nua para o quarto, passando pela sala de jantar que tinha a janela entreaberta. O risco de ver a minha intimidade devassada por um estranho excitava-me, ao ponto de me entregar ao primeiro transeunte da rua que invadisse o terraço solharengo com vista para o mar, o homem da luz, o padeiro, ou até o vendedor mais encolhido de óculos de massa. Puros devaneios pensei eu, enquanto abria o chuveiro e mergulhava na água fria que massajava as costas e limpava o suor. Aquela água era diferente da água do Porto. E curiosamente parecia expurgar melhor a sujidade, principalmente a da alma. Limpei-me e espalhei o bronzeador pois já tinha decidido aproveitar a manhã de sol e praia. Vesti um biquini reduzido que tinha comprado no shopping e um pareo colorido a condizer com o laço do chapéu branco de abas largas que fazia parte do conjunto. Não saí de casa sem antes apagar a fome que sentia. Bebi um refrescante batido de frutas naturais e um pão com queijo da serra. Saí deslumbrante…

Capítulo II (B)

Em dois passos largos saltei a soleira da porta das traseiras, galguei os canteiros e esgueirei-me por cima do muro em direcção à parte mais alta da arriba. Nunca pensaria agir assim no Porto. O ambiente rural convida à aventura, força o corpo a separa-se da mente, cometendo as maiores atrocidades contra a lógica e o rigor que o mundo urbano nos impunha. Assim, a corrida que fazia de madrugada rumo à falésia, em passos largos e mecânicos, era o último vestígio de uma rotina que se fora desvanecendo ao longo das férias. Continuava a consultar o relógio, mais por hábito, já que as horas pouco ou nada significavam além de orientarem as minhas refeições. Por falar em comida, lembrei-me que o peixe que comera há já muitas horas não seria combustível o suficiente para aquela caminhada. Num entroncamento mais adiante volvi à direita, novamente em direcção à povoação, guiada pelo cheiro a pão fresco. Aqui e ali viam-se as tradicionais azenhas (do mar), usadas para moer o grão. Apesar de se encontrar uma ou outras restauradas, a maioria estava esquecida na memória dos tempos. Apressei o passo num sprint final, aproximando-me da padaria da Sra. Deolinda. Aquela Sra. já pra lá da casa dos setenta, teimava em trabalhar. Todos os dias a via junto do balcão, de feições corroídas pelo tempo, mas sempre bem disposta e divertida. Desde nova aprendera a amargura da vida, distribuindo a farinha pelos padeiros da região. Aos poucos foi aprendendo aqui e ali a arte da panificação e acabou por fazer o seu próprio negócio que actualmente sustentava com a ajuda dos filhos. O marido falecera novo, vítima de uma guerra que não era nossa, enquanto viajava pela Europa nos anos 40. Não lhe deixara grande saudade, nem vertia lágrimas quando invocava o seu nome: fora:
«Foi sempre um estafermo que nunca quis trabalhar e passava a vida em passeios e pielas, Deus lhe dê o lugar logrado». As palavras saiam-lhe soltas e naturais, com a jovialidade de uma adolescente.
- Bom dia Dona Deolinda!
- Olá senhorita! - retorquiu - tão cedo por aqui?
- Está um dia bonito demais para ficar a dormir e a senhora tem aí uns bolinhos bons demais para ficarem na montra.
Num gesto hábil e eficaz, pinçou a nata que já era hábito eu pedir e ali ficamos por mais um bocado a reviver o seu passado, já que o meu era curto e modesto demais para trazer alguma história de interesse.
O som dos sinos da capela arrastou-se pelas ruas da aldeia e chegou-me aos ouvidos quando saia da padaria em 8 badaladas demoradas...

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Capítulo II (A)

Os primeiros raios de sol da manhã entravam pela janela aberta do quarto e pela semi cerrada persiana, batendo-me ao de leve na face. A brisa fresca do ar irrompia pelo quarto, espalhando um aroma a mar e um frio no corpo que acordara descoberto. Sentia frio e pele de galinha. Enrolei-me nos mesmos lençóis em busca de um afago quente. Dei meia volta na cama buscando escuridão e cobertura para os olhos que teimavam em abrir. Esperei que o sono voltasse, mas parecia tarde de mais. Consultei o relógio de pulso que deixara em cima da mesa-de-cabeceira: eram 5h35m da manhã. Por fim levantei-me, desistindo de tentar dormir. Fui à casa de banho, e olhei-me no espelho. O sono parecia ter retemperado energias. Apesar do cabelo preto desgrenhado e da cara ainda ensonada a pele reluzia esticada e já amorenada pelo sol que tinha apanhado nos últimos dias. Nunca me preocupei muito com a minha aparência. A verdade é que desde que minha mãe morreu, e já fazia 2 meses no final da semana, que a solidão se apoderou de mim e que decidi procurar algo que nunca antes me tinha feito falta: uma verdadeira companhia. Sempre vivi para o trabalho e eu sabia disso. Porém sabia que no final do dia fosse antes ou depois do jantar ou mesmo de madrugada teria em casa uma mãe, uma companhia uma fonte de amor e carinho. Verdadeiramente nunca soube valorizar aquela que era até e ainda hoje a pessoa mais importante da minha vida. Subitamente vi uma lágrima escorrer pela face e limpei-a bruscamente para que não se multiplicasse em catadupa. Lavei a cara com água fria para acordar definitivamente. Vesti um fato de treino, calcei umas sapatilhas e saí para uma corrida matinal. O mar estava tal como o havia deixado calmo mas com uns carneirinhos a formarem-se. As ruelas da vila estavam ainda desertas. Nem os cafés estavam a laborar. Na porta viam-se já os sacos de pão, sinal de que o padeiro cumpriu mais uma noite de trabalho. Era engraçado reparar nos pormenores a que deixou de dar importância desde que deixou a sua terra no meio da serra e rumou à muy nobre leal e sempre invicta cidade do Porto…

Capitulo I (G)

Ao transpor a ombreira da porta do restaurante um arrepio apoderou-se do meu corpo, coeçando pelos pés, libertou-se na ponta dos cabelos e desapareceu. Lá fora a noite estava excelsa, apesar da diferença de temperatura a que rapidamente me habituei. Fui mais uma vez junto da praia, apreciar o extenso areal, agora praticamente deserta. Ao longe, alguém passeava pela orla das ondas em direcção ao rio das maçãs. O Sr. Júlio, semente e fazendeiro daquela terra, um velhote simpático que passava os dias a contemplar o mar e contar histórias, contara-me no outro dia a história daquela praia:
- Minha menina! - disse ele
- Contava o meu pai que certo dia, um temporal como não havia memória, arrastou das Quintas da Ribeira de Sintra as esbeltas macieiras que lá moravam, fazendo-as cair no rio. No dia seguinte, a praia estava coberta de maças, e assim ficou com o nome.
Naquele momento, a tranquilidade, a discreta maresia, o calor daquela noite de lua cheia que brilhava como um enorme foco impedia-me de recriar mentalmente o dilúvio que o Sr Júlio relatara. Inspirei fundo mais uma vez e subi a rampa da marginal em direcção à povoação vizinha onde me hospedara.
Acompanahada à esquerdapelo mar e à direita pelo vazio dos campos ou casas que iam surgindo, percorri quase inconscientemente todo o caminho até Azenhas do Mar, abstraida pelos estranhos acontecimentos do restaurante que entretanto me voltavam à memória.
A Carla não fora em nada modesta em relação à descrição que fizera daquela casa e que me convenceu a optar por aquele pequeno paraíso para palco destas merecidas férias: a cor branca e azul da fachada virada ao crepúsculo estabelecia uma simbiose com o mar que ficava a apenas alguns metros. O aroma dos canteiros da entrada e das jardineiras na varanda penetraram-me pelas narinas num gesto de acolhimento. As pesadas portadas de madeira imunham-lhe um tom rígido, mas o beje claro da sua cor enternecia o olhar num tom convidativo. A subida até ao topo do monte onde ficava a casa era difícil mas gratificante.
Dei duas voltas à chave e entrei. O interior era acolhedor e aconchegado, como as pessoas daquela terra, iluminado pelo luar que transpunha as persianas ainda abertas. Foi então que me apercebi do cansaço, como se uma pesada bigorna se impusesse sobre os meus ombros. O latejar da minha cabeça voltara, impedindo que o sono se apoderasse do meu corpo. Fui em direcção ao chuveiro para um banho rápido. Despi-me e liguei a torneira. A água fria corria-me pelos cabelos lisos em direcção aos seios, arrastando as gotículas de suor da caminada. Soube-me bem, como uma carícia que há muito desejava. Mas a dor continuava.
Liguei a TV na ânsia de e distrair, sem sucesso. A voz do jornalista em frente centro comercial Colombo soava distante. Mais atrás, o estádio de futebol rasgava o céu num vermelho vivo.
Finalmente, vencida pelo cansaço, arrastei-me para o quarto e precipitei-me sobre os cândidos lençóis de linho. A memória da jovem e a estranha frase invadiram-me subitamente a memória, no instante em que caí num sono profundo...

Capitulo I (F)

A carteira era aparentemente normal, preta a condizer com o vestido. Apenas ostentava umas argolas e correntes prateadas que abrilhantava o ornamento. Lá dentro encontraria tudo o que estava à espera: a base, o baton e o rímel, de há pouco, um espelhinho que não tinha sido necessário, um pacote de lenços de papel, uma caneta e uma pequena carteira de documentos. Prontamente abri a mesma, em busca de um nome que pudesse identificar a loira ou de um número para onde contactar. O certo é que dentro da carteira apenas encontrei poucas moedas e um nome esquisito inscrito num cartão: “Nathalia Nikolaeva”. No mesmo cartão encontrei igualmente um conjunto de letras que não faziam qualquer sentido: “ZUL MUIDATS 12 ETAG”. Voltei a ler novamente, a frase. O certo é que não a conseguia perceber. Parecia de certa forma holandês, o que faria sentido pela aparência da mulher que ainda há pouco saia arrastada das casas de banho. Por outro lado o nome claramente de leste confundia bastante o problema, já que a mesma podia também ser ela a própria a Nathalia Nikolaeva. Estranhei porém, a mesma carteira não ter qualquer documento oficial que comprovasse a verdadeira identidade da estranha personagem. Voltei a guardar tudo lá dentro e aproveitei o papel, de secar as mãos da casa de banho, para copiar a frase esquisita.
Resolvi abandonar os toilettes e regressar a minha mesa onde por certo o pargo estaria à minha espera. Mal atrvessei as pesadas portas de madeira, tudo no restaurante parecia diferente. O local que havia deixado deserto estava agora cheio de gente que pareciam ter aparecido por simples magia. Eram grupos de jovens, famílias que enchiam por completo o restaurante deixando apenas livres escassas mesas. Quem já tinha saído era o estranho grupo de magrebinos e a loira que ainda há pouco me chamavam a atenção. Sentei-me na mesa até que o empregado, agora muito mais diligente senão mesmo apressado, pousou o peixe acompanhado com batatas cozidas e molho verde, um molho de salsa e cebola picada regado com azeite, vinagre e sal.
“- Bonne apetit”! – proferiu por fim, virando costas rapidamente quase não dando oportunidade para agradecer.
- “Obrigado. Olhe desculpe?” - vociferei para que me ouvisse. - “Sim mademoisselle, posso ajudarr?”- “Sim pode” - disse eu – “Aquela senhora que saiu há bem pouco tempo daqui, esqueceu-se da bolsa na casa de banho. Acho que seria melhor o senhor guardar, não vá ela voltar cá à procura”. Meio surpreso o empregado ripostou dizendo: - “concerrteza” vou metê-la no balcão pode ser que dê por falta dela! Obrrigado?” Engraçado este sotaque pensei eu, carregado nos erres, e acentuado o ão (balcão), e a utilizar certas expressões como “meter”, faz-me regressar ao passado e a minha terra querida.
Jantei apressadamente, não porque tivesse nada programado mas porque a azáfama instalada no restaurante estava a contribuir paulatinamente para o agudizar de uma dor de cabeça que começou com o episódio dos toilletes.
Terminei o peixe, bem saboroso, fresco e bem grelhado, pedi a conta, paguei e decidi sair do restaurante para regressar à casa que havia arrendado pelos quinze dias estivais e que me tinha sido indicado pela Carla minha colega de trabalho, que já tinha passado aqui férias.

Capitulo I (E)

As casas de banho, tal como as trufas, eram incongruentes com aquela modesta churrasqueira. As pesadas portas de madeira abriam para um pequeno cubículo onde o modernismo e a antiguidade convergiam. Às tradicionais cores negras do pavimento e branca do tecto, juntava-se um arco-íris de cores, desde o vermelho ao azul, que cobriam quase todas as paredes. somente um grande espelho interrompia aquela dança de cores. As divisórias eram de vidro fosco suportado por inertes barras de metal galvanizado.
Fui então lavar as mãos como sempre fora meu hábito. Em qualquer outra altura teria aproveitado para retocar a mauilhagem, mas em verdadeiro cumprimento do espírito daquelas férias, optei por nem sequer levar comigo os rebuscados adereços que nas mãos correctas eam capazes de transformar a mais horrorosa criatura na mais bela princesa.
A jovem misteriosa, saiu de uma das toiletes e juntou-se a mim nos lavabos. O seu rosto resplandecente, de uma simetria perfeita, dispensava qualquer retoque. Fez-me relembrar com alguma tristeza a inveja que sentia em relação às minhas colegas no ensino secundário, cuja pele lisa e sedosa de jovens mulherzinhas contrastava com as minhas borbulhas disformes que ameaçavam explodir. Da sua mala saltou um estojo completo de beleza. Base, baton, rimel, todos os passos firmes e rigorosos de uma verdadeira profissional tornaram aquele rosto ainda mais sublime.
Além do fascínio pelo carácter e bom gosto daquela mulher, nada mais me atraia, e como era meu costume, evitei a conversa, numa apatia que era partilhada por ambas.
Evidentemente, acabei primeiro a minha higiene. Quando me preparava para abrir a porta, fui violentamente derrubada. Um dos magrebinos, um sujeito baixo e forte (para não dizer mesmo gordo), de olhos sisudos, irrompeu por aquele lugar, arrastando a mulher misteriosa atrás de si.
Aquele rosto apático de há momentos deu lugar a uma expressão suplicante, como se toda aquela beleza ocultasse a mente de uma criança solitária e cativa. Sem oferecer resistência, deixou-se arrastar, e quando o ultimo passo largou a tijoleira negra daquela divisória, já acompanhava aquele brutamontes com todo o rigor e requinte de uma sehora da alta sociedade.
A porta fechou-se atrás deles sem que pudesse sequer balbuciar uma critica. Levantei-me com menos agilidade do que estava á espera (também já lá iam anos desde a última vez que vira o chão de tão perto). vencendo o impulso que me levava lá para fora em busca de satisfações e um pedido de desculpas, dirigi-me novamente aos lavatórios e reparei que a jovem tinha esquecido a sua carteira...

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Capitulo I (D)

- "Voilá Monsieur... bonne apetit!"
- "Merci" - proferiram em uníssono dois dos três ocupantes daquela mesa, sem retirarem os olhos da travessa como se ela fosse voltar para trás ou pudesse fugir.
Numa primeira análise julguei tratarem-se de turistas franceses que aproveitavam aquele início de verão para gozar o sol da Costa da Prata. No entanto a cor de pele terra e a barba por fazer indiciava tratarem-se de magrebinos. Estavam bem vestidos, com fatos e camisa branca, e um lenço preto à volta do pescoço. Mas foi precisamente o contraste da pele pálida da mulher loira e calada que ocupava também o certame gastronómico, que me despertou a atenção. Manteve-se em silêncio quase todo o jantar e a sua indiferença relativamente a tudo o que lá se estava a passar era gritante já que o seu rosto pensativo e olhar fixante no horizonte a levava para distantes paragens do local onde se encontrava. Era uma mulher bonita, loira de pele branca ainda não acastanhada pelo sol. Trazia um vestido preto de decote pronunciado que evidenciava os peitos rijos e desprendidos de qualquer suporte artificial. O cabelo longo e encaracolado caía sobre os ombros nus. Ao longo destes 10 anos aprendi a reparar em todos os pormenores e agora não me consigo desprender deste reflexo, quase instinto da minha sobrevivência e que tão bons frutos deu no passado. A cena que se estava a passar naquele restaurante era minimamente estranha.
Entretanto vi a minha observação interrompida pelo mesmo empregado que há pouco transportava a travessa quente.
- “Boa noite minha senhorra, parra hoje à noite temos duas sugestions: vitelinha ou pargo grelhado…”.
Quase nem ouvi as opções porque a minha atenção continuava concentrada na mesa do fundo e na mulher loira que agora se levantava e dirigia para os toilletes….
- “Minha senhorra…”. Insistiu o empregado certo de que eu não o estava ouvir.
- “Sim claro. Desculpe. Estava distraída mas pode-me trazer o peixinho está bem”.
- “E parra beber?”-replicou o empregado
- “Traga-me uma garrafa de água de meio litro fresca”. O calor apertou durante o dia e precisava de repor os líquidos perdidos.
- “Com cerrteza minha senhorra… É parra já” Abandonou diligentemente a mesa em direcção ao balcão e a cozinha ordenando o pedido.
Notei então que o sotaque do mesmo empregado era também ele estrangeiro mas bastante familiar. Carregado nos “erres” e meio cantarolado. Todos os anos, por altura das férias grandes, rumavam a Portugal e principalmente ao Norte do país, e a minha terra em particular milhares de imigrados na França que foram em busca de uma vida melhor e traziam como legado um sotaque afrancesado…
Resolvi levantar-me e caminhei para os toilletes onde a mulher loira ainda permanecia….

Capitulo I (C)

Talvez não fosse somente a vontade de medir o tempo que me atraiu o olhar para as traseiras do balcão. O meu modesto nariz também seguia naquela direcção, até um aroma refinado que vagamente pairava na memória como uma boa recordação de outrora que não consegui localizar naquele instante. Atrás do balcão ficava a porta para a cozinha. Pelo curto ângulo de visão que tinha daquele local onde estava sentada, podia ver a azáfama com que cozinheiras, ajudantas e serventes lançavam pratos, frutas, carnes, arroz, tudo numa dança aparentemente aleatória mas que resultava numa bandeja digna do manjar dos Deuses. Aquele aroma misterioso alargava ainda mais o buraco do meu estômago que agora só poderia igualar-se ao buraco da camada de ozono. Tentei em vão lembrar-me daquele néctar dos sentidos até que finalmente, não pelo cheiro, mas pela côr beje-mármore daquele último prato que saia do balcão. As escassas raspas brancas que cobriam aquele requintado prato não deixavam dúvidas ao pior dos olfactos: um desejo imenso de saborear aquelas trufas acabadas de sair invadiu-me e foi a muito custo que resisti a deter o servente e provar. dizem que as trufas são os diamantes da cozinha, e com razão. Enquanto franceses e italianos discutem qual será a melhor das trufas: a negra de Perigord na França ou a branca de Alba em Itália, todo o mundo se vai regalando com esta iguaria da família dos cogumelos.
Voltando a assentar os pensamentos, lembrei-me do preço exorbitante daquele condimento. Comecei a questionar-me como seria possível uma churrasqueira modesta de praia elaborar tão requintado prato que eu havia provado somente uma vez num jantar de luxo quando fui representar a minha empresa a Itália, um jantar que certamente teria esvaziado a minha conta bancária.
Foi então que o meu nariz, acompanhado pelos olhos, seguiu aquele prato nas mãos leves e desenrascadas do servente, até pousar docemente num canto da sala.
- Voilá Monsieur...

Capitulo I (B)

Subitamente o cintilar parou, a luz fixou até que finalmente desapareceu no horizonte. O azul claro do céu e o tijolo do sol, típico do fim de tarde deu agora lugar a um azul-escuro estrelado anunciando que a noite chegara. O areal tornara-se deserto e ouvia-se um silêncio ensurdecedor que só era quebrado pelo som distante do Restaurante/Bar que iniciava por esta hora a sua normal agitação. Do mesmo brotava uma nuvem de fumo, em direcção às estrelas, que se diluía no céu até desaparecer. A medida que me aproximava sentia o cheiro do carvão e do churrasco, da gordura da carne a derreter no inflamado fogareiro. Lembrei-me que seriam horas de jantar e que já fazia tempo desde a última refeição decente e por isso sentia o estômago vazio. O apetitoso aroma que surgia no ar ajudou também para que o buraquinho no estômago rapidamente se tornasse num apetite voraz e insaciável. Decidi entrar no restaurante e satisfazer assim o desejo de comida que agora sentia. O restaurante era rude com mesas em alumínio bastante antiquadas, revestidas de toalhas de pano vermelhas e quadrados brancos amarelados pelo tempo, e cobertas por uma toalha de papel branco trocado a cada cliente. Ao fundo da sala aparecia um balcão também ele em alumínio e uma vitrina que expunha variadas opções: pacotinhos de manteiga para os aperitivos; sardinhas, sargos e carapaus, um naco ensanguentado de vitela; alguma fruta e doces exposta para a sobremesa. A sala estava praticamente vazia e no ar ressoava o telejornal e uma voz conhecida dos meus ouvidos do pivot que todos os dias entrava na minha casa. Obviamente que já passavam das oito da noite. Todavia procurei um relógio de parede que precisasse e confirmasse a certeza que possuía. Por de trás do balcão encontrei um relógio que fazia publicidade a uma conhecida marca de cafés e ditava 20h45m

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Capítulo I (A)

Estava numas férias merecidas a contar as areias da praia das Maçãs, aconchegada pelas falésias que a rodeavam, onde somente o som das altas ondas, regalo dos surfistas que por aí deambulavam, interrompia os momentos em que quase adormecia. Saturada da profunda rotina do trabalho, resolvera tirar uns dias de folga: os primeiros nos últimos 10 anos. Depois de contar um número razoável de areias, decidi fazer algo diferente. Um passeio por altura do ocaso revela-nos um mundo diferente do que vemos de dia e de noite. É como um meio termo entre a luz absoluta e a escuridão profunda. Uma altura que inspira poetas, uma musa natural e discreta que revela os maiores segredos. As ondas outrora enfurecidas deram lugar a um manto de espuma calma. Nesta altura enquanto passeava pela linha de água da praia, que me acariciava os pés com o vaivém das ondas, reparei num discreto cintilar vindo do horizonte que desaparecia no mesmo instante em que as ondas me levavam a areia debaixo dos pés. Em nada aquele estranho acontecimento me faria quebrar o rigor dos passos que me conduziam neste passeio. No entanto, aquele o brilho que despertou a minha atenção não era banal, oscilava em tons brancos e vermelhos que contrastavam com a calmia daquele lugar. Parecia algo prestes a explodir, num incessante apelo à atenção de quem por ali passava. Com o mar cada vez mais calmo, o cintilar passou a ser uma luz reflectida. O forte laranja fogo do sol poente parecia beijar o mar naquele ponto.