quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Capitulo I (E)

As casas de banho, tal como as trufas, eram incongruentes com aquela modesta churrasqueira. As pesadas portas de madeira abriam para um pequeno cubículo onde o modernismo e a antiguidade convergiam. Às tradicionais cores negras do pavimento e branca do tecto, juntava-se um arco-íris de cores, desde o vermelho ao azul, que cobriam quase todas as paredes. somente um grande espelho interrompia aquela dança de cores. As divisórias eram de vidro fosco suportado por inertes barras de metal galvanizado.
Fui então lavar as mãos como sempre fora meu hábito. Em qualquer outra altura teria aproveitado para retocar a mauilhagem, mas em verdadeiro cumprimento do espírito daquelas férias, optei por nem sequer levar comigo os rebuscados adereços que nas mãos correctas eam capazes de transformar a mais horrorosa criatura na mais bela princesa.
A jovem misteriosa, saiu de uma das toiletes e juntou-se a mim nos lavabos. O seu rosto resplandecente, de uma simetria perfeita, dispensava qualquer retoque. Fez-me relembrar com alguma tristeza a inveja que sentia em relação às minhas colegas no ensino secundário, cuja pele lisa e sedosa de jovens mulherzinhas contrastava com as minhas borbulhas disformes que ameaçavam explodir. Da sua mala saltou um estojo completo de beleza. Base, baton, rimel, todos os passos firmes e rigorosos de uma verdadeira profissional tornaram aquele rosto ainda mais sublime.
Além do fascínio pelo carácter e bom gosto daquela mulher, nada mais me atraia, e como era meu costume, evitei a conversa, numa apatia que era partilhada por ambas.
Evidentemente, acabei primeiro a minha higiene. Quando me preparava para abrir a porta, fui violentamente derrubada. Um dos magrebinos, um sujeito baixo e forte (para não dizer mesmo gordo), de olhos sisudos, irrompeu por aquele lugar, arrastando a mulher misteriosa atrás de si.
Aquele rosto apático de há momentos deu lugar a uma expressão suplicante, como se toda aquela beleza ocultasse a mente de uma criança solitária e cativa. Sem oferecer resistência, deixou-se arrastar, e quando o ultimo passo largou a tijoleira negra daquela divisória, já acompanhava aquele brutamontes com todo o rigor e requinte de uma sehora da alta sociedade.
A porta fechou-se atrás deles sem que pudesse sequer balbuciar uma critica. Levantei-me com menos agilidade do que estava á espera (também já lá iam anos desde a última vez que vira o chão de tão perto). vencendo o impulso que me levava lá para fora em busca de satisfações e um pedido de desculpas, dirigi-me novamente aos lavatórios e reparei que a jovem tinha esquecido a sua carteira...

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