quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Capítulo II (A)

Os primeiros raios de sol da manhã entravam pela janela aberta do quarto e pela semi cerrada persiana, batendo-me ao de leve na face. A brisa fresca do ar irrompia pelo quarto, espalhando um aroma a mar e um frio no corpo que acordara descoberto. Sentia frio e pele de galinha. Enrolei-me nos mesmos lençóis em busca de um afago quente. Dei meia volta na cama buscando escuridão e cobertura para os olhos que teimavam em abrir. Esperei que o sono voltasse, mas parecia tarde de mais. Consultei o relógio de pulso que deixara em cima da mesa-de-cabeceira: eram 5h35m da manhã. Por fim levantei-me, desistindo de tentar dormir. Fui à casa de banho, e olhei-me no espelho. O sono parecia ter retemperado energias. Apesar do cabelo preto desgrenhado e da cara ainda ensonada a pele reluzia esticada e já amorenada pelo sol que tinha apanhado nos últimos dias. Nunca me preocupei muito com a minha aparência. A verdade é que desde que minha mãe morreu, e já fazia 2 meses no final da semana, que a solidão se apoderou de mim e que decidi procurar algo que nunca antes me tinha feito falta: uma verdadeira companhia. Sempre vivi para o trabalho e eu sabia disso. Porém sabia que no final do dia fosse antes ou depois do jantar ou mesmo de madrugada teria em casa uma mãe, uma companhia uma fonte de amor e carinho. Verdadeiramente nunca soube valorizar aquela que era até e ainda hoje a pessoa mais importante da minha vida. Subitamente vi uma lágrima escorrer pela face e limpei-a bruscamente para que não se multiplicasse em catadupa. Lavei a cara com água fria para acordar definitivamente. Vesti um fato de treino, calcei umas sapatilhas e saí para uma corrida matinal. O mar estava tal como o havia deixado calmo mas com uns carneirinhos a formarem-se. As ruelas da vila estavam ainda desertas. Nem os cafés estavam a laborar. Na porta viam-se já os sacos de pão, sinal de que o padeiro cumpriu mais uma noite de trabalho. Era engraçado reparar nos pormenores a que deixou de dar importância desde que deixou a sua terra no meio da serra e rumou à muy nobre leal e sempre invicta cidade do Porto…

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