quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Capitulo I (F)

A carteira era aparentemente normal, preta a condizer com o vestido. Apenas ostentava umas argolas e correntes prateadas que abrilhantava o ornamento. Lá dentro encontraria tudo o que estava à espera: a base, o baton e o rímel, de há pouco, um espelhinho que não tinha sido necessário, um pacote de lenços de papel, uma caneta e uma pequena carteira de documentos. Prontamente abri a mesma, em busca de um nome que pudesse identificar a loira ou de um número para onde contactar. O certo é que dentro da carteira apenas encontrei poucas moedas e um nome esquisito inscrito num cartão: “Nathalia Nikolaeva”. No mesmo cartão encontrei igualmente um conjunto de letras que não faziam qualquer sentido: “ZUL MUIDATS 12 ETAG”. Voltei a ler novamente, a frase. O certo é que não a conseguia perceber. Parecia de certa forma holandês, o que faria sentido pela aparência da mulher que ainda há pouco saia arrastada das casas de banho. Por outro lado o nome claramente de leste confundia bastante o problema, já que a mesma podia também ser ela a própria a Nathalia Nikolaeva. Estranhei porém, a mesma carteira não ter qualquer documento oficial que comprovasse a verdadeira identidade da estranha personagem. Voltei a guardar tudo lá dentro e aproveitei o papel, de secar as mãos da casa de banho, para copiar a frase esquisita.
Resolvi abandonar os toilettes e regressar a minha mesa onde por certo o pargo estaria à minha espera. Mal atrvessei as pesadas portas de madeira, tudo no restaurante parecia diferente. O local que havia deixado deserto estava agora cheio de gente que pareciam ter aparecido por simples magia. Eram grupos de jovens, famílias que enchiam por completo o restaurante deixando apenas livres escassas mesas. Quem já tinha saído era o estranho grupo de magrebinos e a loira que ainda há pouco me chamavam a atenção. Sentei-me na mesa até que o empregado, agora muito mais diligente senão mesmo apressado, pousou o peixe acompanhado com batatas cozidas e molho verde, um molho de salsa e cebola picada regado com azeite, vinagre e sal.
“- Bonne apetit”! – proferiu por fim, virando costas rapidamente quase não dando oportunidade para agradecer.
- “Obrigado. Olhe desculpe?” - vociferei para que me ouvisse. - “Sim mademoisselle, posso ajudarr?”- “Sim pode” - disse eu – “Aquela senhora que saiu há bem pouco tempo daqui, esqueceu-se da bolsa na casa de banho. Acho que seria melhor o senhor guardar, não vá ela voltar cá à procura”. Meio surpreso o empregado ripostou dizendo: - “concerrteza” vou metê-la no balcão pode ser que dê por falta dela! Obrrigado?” Engraçado este sotaque pensei eu, carregado nos erres, e acentuado o ão (balcão), e a utilizar certas expressões como “meter”, faz-me regressar ao passado e a minha terra querida.
Jantei apressadamente, não porque tivesse nada programado mas porque a azáfama instalada no restaurante estava a contribuir paulatinamente para o agudizar de uma dor de cabeça que começou com o episódio dos toilletes.
Terminei o peixe, bem saboroso, fresco e bem grelhado, pedi a conta, paguei e decidi sair do restaurante para regressar à casa que havia arrendado pelos quinze dias estivais e que me tinha sido indicado pela Carla minha colega de trabalho, que já tinha passado aqui férias.

Sem comentários: