terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Capítulo I (A)

Estava numas férias merecidas a contar as areias da praia das Maçãs, aconchegada pelas falésias que a rodeavam, onde somente o som das altas ondas, regalo dos surfistas que por aí deambulavam, interrompia os momentos em que quase adormecia. Saturada da profunda rotina do trabalho, resolvera tirar uns dias de folga: os primeiros nos últimos 10 anos. Depois de contar um número razoável de areias, decidi fazer algo diferente. Um passeio por altura do ocaso revela-nos um mundo diferente do que vemos de dia e de noite. É como um meio termo entre a luz absoluta e a escuridão profunda. Uma altura que inspira poetas, uma musa natural e discreta que revela os maiores segredos. As ondas outrora enfurecidas deram lugar a um manto de espuma calma. Nesta altura enquanto passeava pela linha de água da praia, que me acariciava os pés com o vaivém das ondas, reparei num discreto cintilar vindo do horizonte que desaparecia no mesmo instante em que as ondas me levavam a areia debaixo dos pés. Em nada aquele estranho acontecimento me faria quebrar o rigor dos passos que me conduziam neste passeio. No entanto, aquele o brilho que despertou a minha atenção não era banal, oscilava em tons brancos e vermelhos que contrastavam com a calmia daquele lugar. Parecia algo prestes a explodir, num incessante apelo à atenção de quem por ali passava. Com o mar cada vez mais calmo, o cintilar passou a ser uma luz reflectida. O forte laranja fogo do sol poente parecia beijar o mar naquele ponto.

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