segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Capitulo II (H)

Enquanto caminhava em direcção à porta, sentia-me uma verdadeira amadora. E não era para menos: nunca tive um namorado. Desde a minha adolescência, convenci-me que uma mulher que deseje prosperar na carreira tem que fazer alguns sacrifícios. Desde então esforçava-me por ser a melhor em tudo que fazia, a competição era o meu afrodizíaco e o trabalho o meu único companheiro. Assim comecei como economista numa pequena secção da empresa, mas logo no primeiro ano fui promovida a gestora da mesma para desolação do meu antecessor que se viu vencido e acabado, também em parte devido à sua idade. Imediatamente os meus colegas mudaram de atitude em relação a mim, os meus esforços acabaram por dar resultado. Em pouco tempo cheguei a chefe de departamento e agora, ao fim de dez anos, foi-me proposto um lugar na mesa da administração. A emoção em torno desse assunto motivou as minhas férias. Era fácil de prever que no caso de aceitar o caso, as minhas próximas férias poderiam demorar bem mais do que dez anos e então comecei a ponderar se deveria de facto esquecer os sonhos que tinha em criança de casar e formar família.
As férias foram então planeadas para reflectir sobre este assunto e descansar. Nunca pensei no entanto estar agora a entrar na numa casa com um homem, e que homem!
- Por favor, entra. - Convidei. Ele acedeu sem hesitar.
- Fica à vonatade.
Enquanto fechava a porta e contemplava o seu traseiro a deambular pelo meu corredor, apercebi-me que aquela era a casa de uma mulher que morava sozinha e já não tinha férias há dez anos. Tarde demais, com o seu olhar discreto o João estava agora a olhar pela porta do quarto:
- Bem parece-me que esta não é a porta da cozinha! - um sorriso saltou-lhe sem querer, e tornou-o ainda mais apetecível.
- Desculpa, não estava a contar com visitas, tudo isto foi um bocado inesperado.
- Se quiseres vou embora - ameaçou num tom brincalhão.
- Não precisas, e de qualquer maneira tenho que retribuir de algum modo o que fizeste por mim hoje.
Relembrando os acontecimentos, apercebi-me subitamete que só tinha conhecido o João naquela manhã, e em poucas horas já estava a convidá-lo para entrar em minha casa. Fui então invadida por um peso na consciência e um sentido de irresponsabilidade que imediatamente se esvaneceu no vigor da voz daquele divo:
- Ques que faça o almoço?
Hesitei um segundo na resposta - Pode ser, vamos ver os teus talentos.
Os atributos já os conhecia, faltava agora ser surpreendida com um excelente cozinheiro, romântico, culto e acima de tudo: disponível, algo que ainda não lhe perguntara mas que eu já adivinhava vir a surgir no decorrer das nossas conversas daquela tarde.
- Tens tudo nos armários e na dispensa. Serve-te à vontade do que quiseres.
- Ok! - Respondeu olhando com um sorriso maroto, como se me conhecesse há muitos anos.
- Oh! - retorqui - sabes o que quero dizer. Vou só tomar um banho e já acabo. Se quiseres podes ir tu no fim? convidei.
- Não posso ir agora?
- Não, tens que fazer o almoço e eu estou esfomeada. - A custo consegui manter a serenidade, bem estava esfomeada, só não disse de quê.
Dirigi-me então ao quarto, arrumei umas roupas e rapidamente saltei para a modesta casa de banho, abstraida pelos meus pensamentos e desejos...

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